Ela não quer
Chega de silêncio em excesso. Chega de maus tratos. Chega de amor subentendido. Chega desse luto eterno, dessa angústia que nunca passa. Chega desse orgulho abusivo, que a maltrata; desse silêncio que espanta. Mudanças acontecem, mas são muito difíceis de se lidar, ainda mais quando fazem tão mal. Ninguém explica. Ninguém fala, ninguém contesta. Fala-se pelos cantos. Um pouco aqui, um pouco lá. Ela tem que ouvir tudo; o lado de cá e o lado de lá. Quieta, sempre quieta. Afinal, ela não tem o que fazer. Ela não sabe o que fazer, que atitudes tomar. Apenas não suporta essa situação. Não que ela deva suportar também, mas é obrigada. Faz mal, ela se sente triste, chora por não saber o que fazer e ver tudo desmoronar assim, de repente. Ela não sabe o que dizer, quando sabe, de nada adianta.O jantar ocorreu em silêncio, todos olhando pra baixo, assim como o almoço. Quando se fala, é rápido, em tom baixo e grosso. Pequenas atitudes são leviana e grosseiramente contestadas, também de maneira curta - e grossa. Depois, cada um num cômodo. Quando um levanta a voz é para exigir algo, fala-se com um tom de cobrança por trás, de exigência, de possessividade. Possessivo. Essa é a palavra. Ela sofre. E como sofre.
Ela apenas não agüenta mais.
Talvez ela mereça tudo isso. Talvez, não.
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Talvez alguém tenha entendido; talvez, não.
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