3.12.2006

Muito lôco

Eu já tinha me esquecido o quão vazio e quase grotesco pode ser um diálogo entre dois jovenzinhos rioclarenses oriundos do colégio e recém-chegados à faculdade:

- ...
- Ô cara, muuuuito lôco.
- Ahã!!!
- ...
- Tem uma coisa bem de liberrrrrdade, né?
- Pior que tem mesmo.
- ...
- O cara me ligou pra gente ir pra algum lugar tomar uma. Muito lôco.
- É mesmo?
- Só.
- ...
- Puta hoje eu acordei às 10h só pra ver TV.
- Caramba.
- ...
- O fulano faz Anhembi Morumbi. Uns 800 reais por mês.
- Nem sabia.
- ...
- Mora quatro pessoas na casa. Um fica no quarto que é suíte.
- Caramba, hein.
- ...
- Muito lôco.
- Lôco mêmo.

Loucura. Me deu vontade de dar um peteleco na cabeça de cada um deles e mandar ler jornal.

Falou a tiazona chata.

Será mesmo?

M-e-d-o dessa juventude! ;-)

3.06.2006

Não faz nada, só fica em casa

Li este texto no colégio há uns bons anos, quando devia estar em torno da segunda série do ensino fundamental. Nunca mais esqueci, acho muito meigo e sutil. Hoje coloco aqui, lamentando por não saber mais quem é seu autor, como uma primeira homenagem às mulheres pelo Dia Internacional da Mulher. Vale o clichê de que todos os dias tem que ser nossos dias, mas em alguns, como o próximo dia 8 em especial, valem para relembrar nosso lugar nessa sociedade, com o qual ainda não aprendemos a lidar muito bem e às vezes as mamães, na mesma dificuldade, acabam não conseguindo deixar isso muito claro aos seus filhos.

"Era uma vez uma mulher que perdeu seu nome de batismo ou melhor trocou- o por outro muito usado: o de mãe. Sendo mãe tornou-se uma pessoa essencialmente chata. A maior cobradora da paróquia. Faça isso; faça aquilo...
O relógio toca. Começa a batalha.
- Vamos acordar, pessoal!!!
Corre liga a água para o café. O leite também (quando tem)...
- Vamos crianças, vistam o uniforme!
O pai já está no banho.

Rápido. Tem aula.
Côa o café. Serve a mesa.
Vamos pessoal. Olhe a hora. Coma o pão. Escovem os dentes.
Pronto. O marido foi para o trabalho e as crianças para a escola.
Trocou de roupa. Tirou a mesa, limpou a mesa do café. Arrumou as camas. Varreu a casa. Retirou o pó dos móveis. Vai ao verdureiro. Feitas as compras corre ao açougue. aproveita a saída passa pelo banco e paga as contas de água e luz.
Volta correndo. Faz o almoço. Olha o relógio. Está na hora do marido e das crianças chegarem...
Chegaram. Serve o almoço.
- Menino não belisque sua irmã!
O pai pede que lave o macacão. Conta que hoje o trabalho melhorou um pouco, mas é para cuidar das despesas. Breve repouso e volta ao serviço.
A mãe lava a louça do almoço. Afilha seca os pratos e o filho os talheres, ele se manda para o quintal. O cachorro aparece com os pêlos da cauda bem aparados.
- Esse menino! Foi por isso que ele pegou a tesoura...
- Crianças façam a lição.
Sim. Claro, arranjar figuras para a tarefa de geografia. Costurar a barra da calça do menino. Pregar o botão da blusa da menina.
- Mãe, amanhã é aniversário da professora. Tenho que levar um bolo.
Pronto. O bolo está no forno. Enquanto assa, lava o macacão.
- Vamos ao dentista.
Cuidado ao atravessar a rua.
Passam na panificadora. Voltam para casa.
- Tomem banho!
Providenciar o jantar.
- Não gosta de ovo? Tem que comer. Faz bem para a saúde.
Fiquem quietos. Deixem o papai assistir o noticiário sossegado. Ele está cansado. Trabalhou o dia todo. Vão para o banho! Já arrumaram o material para a aula de amanhã? Mas que turma! Desde que chegamos do dentista estou dizendo para irem para o banho.
Todos deitados.
Verificação total da casa. Deixar a mesa arrumada para o café matinal.
- Ora veja! O menino esqueceu de guardar o caderno.
Abriu-o, deu uma olhada na lição. Ele preencheu uma folha com dados pessoais: nome completo, data de nascimento, local e também dados familiares.
Profissão do pai: mecânico.
Profissão da mãe: não faz nada, só fica em casa."

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